Oftalmologista
Dez respostas para dez perguntas
HPA Magazine 10
1. Qual é a dimensão da diabetes em Portugal e no Mundo?
Segundo o último relatório do Observatório Nacional da Diabetes, a sua prevalência estimada na população portuguesa com idades compreendidas entre 20-79 anos (7,7 milhões de indivíduos) é de 13,3%. Ou seja, mais de um milhão de portugueses padece desta doença. Entre o ano 2000 e 2015 foram diagnosticados 584.916 novos casos em Portugal, sendo que a Organização Mundial da Saúde estima que em 2030, o número de afetados no mundo seja superior a 500 milhões de pessoas.
2. O que é a retinopatia diabética?
Denominada vulgarmente como “diabetes nos olhos” (termo incorreto), a Retinopatia Diabética consiste na alteração da citoarquitetura (anatomia) e função das estruturas retinianas, em resposta ao dano vascular e consequente inflamação, mediada por diversos agentes. Aproximadamente 25% dos diabéticos apresentam alguma forma de Retinopatia Diabética e destes 2-10% apresentam Edema Macular Diabético (excesso prolongado de açúcar no sangue que provoca edema dos vasos sanguíneos oculares). Esta é a complicação responsável pelo maior número de casos de diminuição da acuidade visual entre os afetados por Retinopatia Diabética.
3. Sou diabético! Irei desenvolver em algum momento retinopatia diabética?
A evolução das complicações associadas à diabetes nos diferentes órgãos varia enormemente. Assim, quanto melhor for o controlo metabólico do paciente, menor será o número de complicações associadas. Apesar de tudo, a incidência da Retinopatia Diabética e do Edema Macular Diabético aumentam com o número de anos que se padece da doença, sendo que aos 15 anos de evolução 15% dos diabéticos apresentará edema macular, e aos 20 anos, mais de 90% apresentará algum grau de Retinopatia Diabética.
4. É possível prevenir a retinopatia diabética?
Como mencionado no ponto anterior, o bom controlo metabólico da doença por parte do médico de família, médico internista ou endocrinologista, atrasará o início das complicações. Apesar dos melhores cuidados relacionados com esse controlo, quanto mais anos for diabético maior será a incidência da Retinopatia Diabética.
5. No caso de ser diagnosticado de retinopatia diabética, ficarei cego?
A diabetes é considerada a causa mais importante de cegueira na população ativa nos países industrializados, sendo o Edema Macular Diabético a causa mais frequente de diminuição de acuidade visual e a Retinopatia Proliferativa (forma mais grave de Retinopatia Diabética) a responsável pelas deficiências visuais mais pronunciadas. No entanto, a arma mais eficaz para combater este cenário é o diagnóstico precoce (antes do aparecimento dos primeiros sintomas e complicações).
6. Como se diagnostica a retinopatia diabética antes dos seus sintomas e complicações?
Mediante o exame cuidadoso de um médico oftalmologista, é possível identificar lesões na retina mesmo em fases iniciais da doença. Geralmente depois de um contato inicial o paciente é referenciado a profissionais com experiência na gestão de Retinopatia Diabética. A importância da classificação da doença é grande, porque condicionará o tipo de tratamento aplicado.
7. Que meios diagnósticos são utilizados na avaliação e classificação da retinopatia diabética?
São vários os exames complementares utilizados. Na avaliação do doente diabético é fundamental avaliar as lesões na retina média e periférica e ao mesmo tempo descartar a presença de Edema Macular Diabético (complicação em estreita relação com a diminuição da acuidade visual). O exame denominado angiografia fluoresceínica continua sendo uma das principais ajudas para discernir o número e o grau de lesões na retina (especialmente aquelas que são invisíveis ao exame oftalmológico). Outro exame fundamental sobretudo para a avaliação da mácula (zona retiniana com maior número de fotorrecetores essenciais para uma boa visão) é o chamado OCT (tomografia de coerência ótica). Este último é capaz de analisar as diferentes capas da retina com alto detalhe, permitindo o diagnóstico precoce das lesões maculares antes que as mesmas se associem com a diminuição da acuidade visual. A mais recente geração de OCT com tecnologia Swept Source (OCT-A) permite a realização de imagens semelhantes aos de um angiógrafo clássico, mas sem a necessidade de utilização de contraste intravenoso. Em função do número e localização das lesões registadas, classificamos a doença e tratamo-la de acordo com essa manifestação.
8. Como se classifica a retinopatia diabética?
Utilizando os dados recolhidos a partir do exame fundoscópico direto ou mediante retinografias, surge esta classificação:
9. Quando é necessário tratar a retinopatia diabética?
É um tema complexo. No entanto, geralmente a maioria dos oftalmologistas decide iniciar a terapêutica, quando a doença é classificada como retinopatia não proliferativa grave (classificação clínica internacional) ou mediante a presença de Edema Macular Diabética. Outras complicações, como a isquémia periférica da retina e a neovascularização detetadas em angiografia fluoresceínica, condicionam o início do tratamento específico oftalmológico. Qualquer complicação relacionada com a Retinopatia Diabética proliferativa geralmente é alvo de tratamento prioritário.
10. Quais são os tratamentos disponíveis?
Em função das lesões apresentadas na retina do paciente, o oftalmologista pode indicar diferentes formas de tratamento. Como foi explicado anteriormente, a maioria dos casos de perda de acuidade visual está associada ao Edema Macular Diabético. Hoje em dia os melhores resultados obtidos no tratamento desta condição observam-se através da terapia anti-VEGF intravítrea e os corticosteroides intravítreos, ambos administrados em condições de antissepsia no bloco operatório. Outras opções de tratamento são a fotocoagulação retiniana e a cirurgia vitreorretiniana.